Lembranças da Rua Esmaltina - Santa Tereza Tem
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Lembranças da Rua Esmaltina

Lembranças da Rua Esmaltina – Série Santa Tereza tem memória

*Por Valdir de Castro Oliveira

Remexendo em minhas fotos antigas, encontrei uma do Célio Beling e do Maurício sentados no muro da casa da Wilma à Rua Esmaltina e outra do Betinho (Carlos Alberto Acioly) ao meu lado. Nessa época, prestávamos o serviço militar em 1966, eu no então 12º Regimento de Infantaria, na Companhia de Petrechos Pesados (morteiros) no Prado e ele na Companhia de telecomunicações na Pampulha, ao lado do Colégio Militar.

Ambos morávamos na íngreme Rua Esmaltina. Eu, na parte de baixo e ele mais em cima quase em frente à casa dos Friche. Aliás, por esta proximidade domiciliar um dos membros dessa família, o Fábio Friche, namorou por um tempo uma das irmãs do Betinho.

Apesar das agruras do serviço militar, isso não nos impedia de viajar juntos para vários lugares, entre eles Pedro Leopoldo, onde morava uma de suas irmãs casada, na época um lugar aprazível e com águas menos poluídas que nos permitia nadar no rio local.

Nos fins de semana, encostávamos a farda em casa para nos juntarmos aos outros membros da turma da Rua Esmaltina, como o Célio Belings, Pedro Friche, Zé Ventania, os irmãos Moacir e Maurício, João Galinha e tantos outros para irmos as festas que aconteciam nas redondeza, como no Sindicato dos Bancários (Rua Salinas) ou no Estádio Sete de Setembro, na época dirigido por Raimundo Sampaio, que mantinha ao lado do campo uma exuberante piscina e um aconchegante salão de festas, onde hoje é o espaço de transmissão pela mída dos jogos do Independência.

De certa, feita soubemos de uma dessas festas a ser realizada nesse local, que era cercado por muros. Para evitar penetras na festa, o Raimundo Sampaio mandou colocar entre os muros e o salão de festas arame farpado escorado em pilastras de madeira e assim evitar a entrada de possíveis visitantes, que eles não queriam ou não podiam pagar ingresso, como era o nosso caso. Mas isso não nos intimidou.

No dia da festa, pulamos o muro alto que cercava o local. Alguns caíram esfolando joelhos e braços. Vencido este primeiro obstáculo, o outro era passar pelo arame farpado e, quando assim fizemos, tivemos parte de nossas roupas rasgadas e, mais uma vez, pernas e braços arranhados. Com muito custo, esfolados e em trapos, mas nutridos por um sentimento de vitória, alcançamos a piscina e, depois de contorna-la, dirigimo-nos para o salão de festas ao lado.

Sorridentes, nele entramos e, de cara, nos defrontamos com outros membros da turma da Rua Esmaltina, que estavam presentes à festa. Ao nos verem naquele estado deplorável, soltaram estrondosas gargalhadas dizendo: – “Seus otários, a festa hoje tem entrada franca”, detalhe, que nos passou desapercebido tamanha as nossas querências de entrar em festas sem pagar, um costume arraigado nos membros dessa turma da Rua Esmaltina que, à época, andavam quase sempre seus bolsos vazios!

Esfolados, com roupas rasgados e com cara de tacho, esquecemos logo dessas agruras e tratamos de curtir a festa em curso!

*Valdir de Castro nasceu e cresceu em Santa Tereza, graduado em comunicação pela PUCMG, e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1996). Foi professor da PUC-MG, UFMG e da FIOCRUZ. Saiu de Santa Tereza, mas Santa Tereza não saiu dele.

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